Seu perfume ficou na sala
Mas você partiu
Ficou no trinco da porta
No telefone que usou distraidamente
Na caneta com a qual batucou impaciente.
No sofá, nas almofadas
Onde cansado, adormeceu, enquanto me esperava.
Está sobre meu rosto, pois o acariciou longamente
Misturou-se ao meu, e da nossa química ficou mais doce
Espalhou-se pelos lençóis da cama como se fosse chuva de verão
No travesseiro onde dormiu por uma, duas horas
Em meu corpo que tocou faminto, saudoso.
E enquanto banho, lamento perdê-lo
Ressinto-me deste desapego
Enquanto a água cai rápida e mansa
Eu lembro debaixo do chuveiro
Penso em nós dois.
No que fizemos
No prazer que nos demos
Tudo parece distante agora que se foi
Que seu perfume abandonou meu corpo.
Quero que a água me lave, me renove
Deixei-me ficar a sós
Seu perfume me confunde
Faz-me desejar você, que já se foi.
Seu toque.
Ainda sinto você
Está bem aqui em meu peito
Na marca do beijo invisível sobre o seio.
Em meus dedos que te tocaram
Em minhas mãos que te afagaram
O seu perfume se apagou
E quando pequei o telefone e levei ao ouvi
Senti seu cheiro no fone, beijei o aparelho
E desisti da ligação, pois seu cheiro voltou...
E me deu a falsa ilusão de sua presença.
Vou dormir, é quase manhã
O telefone toca
È você
E seu perfume.